[...] O monarca Pedro II se dividia entre as obrigações de governante e o seu fascínio pelas letras e o aprendizado de línguas. O imperador era um indivíduo movido pela curiosidade e pelo saber, o conhecimento era uma espécie de força motriz. Gabava-se de ter sido um dos primeiros a conhecer a teoria da evolução proposta por Darwin. Dedicava-se à astronomia e à egiptologia, igualmente à medicina, engenharia, ao hebraico e à tradução. Traduzia desde textos clássicos – de Horácio a Tertuliano, passando por Dante – até obras de contemporâneos seus, dada a sua grande inclinação ao estudo de línguas. Além do latim, o imperador conhecia e falava bem francês, inglês, italiano, espanhol e alemão. Estudou grego, tupi, hebraico, árabe, sânscrito, siríaco e provençal. Motivado pela vontade de estar em meio aos grandes nomes da literatura daquele período, o monarca traduziu os poetas que mais admirava, presenteando-os muitas vezes com o seu trabalho. O imperador demonstrava grande predileção pelo Oriente, alimentando uma verdadeira curiosidade sobre tudo o que fosse referente àquela região do globo. Imbuído das culturas e religiões orientais, mergulhou também nas traduções de As mil e uma noites diretamente do árabe e do Livro do Hitopadeśa, revelando seu conhecimento em sânscrito, obras que nunca foram editadas e nem publicadas. Também traduziu parcialmente o ‘poema oriental’ Granada, de José Zorrilla y Moral, trabalho quase finalizado à época em que ele foi deposto do trono (1889). Em suas viagens ao Oriente, o monarca peregrino visitou templos, lugares sagrados, registrou com minúcias suas impressões sobre os locais e fez questão de examinar cautelosamente todos os lugares mencionados na Bíblia, lamentando as vezes em que não dispunha do texto hebraico para traduzir certas passagens. Aliás, os estudos de hebraico, iniciados em Petrópolis, permitiram a tradução de passagens bíblicas dos livros de Ruth, Isaías, Cântico dos Cânticos, Salmos, Jeremias e Gênesis para o latim.
In 'Análise descritiva da tradução do Hitopadeśa por D. Pedro II e Sebastião Dalgado', por Adriano Mafra
Referências
São muitas as referências aos trabalhos de Pedro II, que estão fragmentadas e/ou não publicadas de forma completa. Veja as indicações abaixo:
D. Pedro II [link externo]
Julio Gralha, Os diários de D. Pedro II no Egito. Rio de Janeiro: LVM, 2022.
Khatlab, Roberto, As Viagens de D. Pedro II, Oriente Médio e África do Norte, 1871 e 1876, São Paulo: Benvirá, 2015.
Mafra, Adriano. ‘Análise descritiva da tradução do Hitopadeśa por D. Pedro II e Sebastião Dalgado’. La traductología en Brasil. Mutatis Mutandis. Vol. 7, No. 1. 2014. pp. 26-42.
Pedro II, um tradutor imperial. Link: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/178903/Noemia_Guimaraes_Soares%2C_Rosane_de_Souza%2C_Sergio_Romanelli_%28Orgs.%29_-_Dom_Pedro_II_-_Um_Tradutor_Imperial3.pdf?sequence=1
Faingold, R. (2008). D. Pedro II, manuscritos hebraicos e os orientalistas de São Petesburgo. Arquivo Maaravi: Revista Digital De Estudos Judaicos Da UFMG, 2(2), 114–121. https://doi.org/10.17851/1982-3053.2.2.114-121
Adriano Mafra e Chistiane Stallaert: Orientalismo Crioulo: D. Pedro II e o Brasil do Segundo Império. Iberoamericana, Vol. 16 Núm. 63 (2016).
O processo criativo de D. Pedro II na tradução do Hitopadeça Link: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/134782
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